sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Quando deixamos de ser filhos...

Tem momentos em que minha única vontade é voltar a ser criança, adolescente, jovem... Não, a verdade é que tem momentos que o que eu quero mesmo é poder ser filha. Pronto!

Não, não é que hoje eu não seja mais... Mas mudou, tudo ficou tão diferente...

Quando a gente é filho, tem mais direitos... É muito mais corajoso! Não há nada que a gente tema. Nem mesmo uma boa bronca do chefe, quando já somos adultos. Quando somos filhos temos o maior suporte que qualquer pessoa pode ter no mundo: o braço de nossos pais.

No fundo no fundo, quando a gente é filho, não precisa se preocupar profundamente com as coisas. Tem alguém, por trás de nós, que já tem este papel!

E quando é que deixamos de exercer esse papel de maneira irrestrita? Pra mim não foi quando eu terminei a faculdade, nem quando comecei a trabalhar e pagar minhas contas, nem ao menos quando eu casei, que aí havia outra pessoa (meu marido) que podia se preocupar comigo. Na verdade, o casamento fez com que mais alguém, um terceiro ser, estivesse ali por mim.

Mas há um momento, um momento em que toda essa segurança vai embora! Um momento em que pela primeira vez você é apresentado ao mundo! É quando você se torna mãe ou pai.

Por mais magia que dizem estar rodeado este momento (e de maneira nenhuma quero dizer que não está), mas é só ali, quando seu filho está no seu colo, principalmente quando ele chega com você a sua casa, que você vive a maior transformação da sua vida! Você passa a ser pai/mãe.

A partir dali você é que é a força, a coragem, a bravura, a proteção, o carinho de uma nova pessoa! A partir dali, você passa de filho para pai.

Pra mim, essa sensação foi um choque de realidade. É sim de muita alegria, mas também de uma dureza absurda!

O choque passa, eu garanto! Mas a sensação de que você não está mais por você, ah, essa é para sempre!

É engraçado isso. Mas quando somos filhos, nem sempre percebemos que estamos ali como filhos ainda no mundo. Muitas vezes, o que sentimos é que somos nós por nós mesmos. E é daí que muitas vezes nos vem a coragem. Coragem de enfrentar um chefe, de dar um pé em um curso, de largar tudo e começar tudo de novo. Porque parece que o único "prejudicado" somos nós!

Não pensamos muitas vezes ao tomar uma decisão, porque no fundo no fundo, sabemos que de fome a gente não morre e nem ficamos sem ter onde dormir, estamos na casa de nossos pais. E nem de falta de amor, pois eles estão ali.

Hoje, que sou mãe, que sou o suporte, penso que como às vezes essa visão de ser eu comigo mesma, enquanto eu era filha, era uma visão egoísta. O fato é que nunca é você com você. O fato é que sempre tem alguém ali, atrás de você, e cada passo incerto que você der vai trazer a essas pessoas a sensação de que elas erraram.

Quando nos tornamos pais e nossos filhos tem problemas, pelo menos pra mim é assim, a primeira pessoa que questionamos é a gente mesmo. Onde eu errei, o que não ensinei direito, como não percebi. Dos menores aos maiores problemas.

Sim, eu sei, cada um é responsável por suas atitudes... Mas um pai e uma mãe sentem que tem uma responsabilidade dupla: consigo mesmo e com eles, os filhos!

Ontem vi minha filha chorar de dor na barriga. Muita dor. Me assustei, claro. Mas pais tem que trazer consigo uma outra coragem, a coragem de que estão ali e que tudo vai passar. Fomos ao hospital e, graça a Deus, o problema era cocô empedrado. Ela é naturalmente muito ressacada e chegou em um ponto em que precisou de ajuda para tirar tudo aquilo.

Um problema pequeno e fácil de ser solucionado, graças a Deus. Mas junto a ele, mais uma vez, a sensação de que errei. Errei ao não insistir que ela comesse as frutas que deveria, ao não ser mais incisiva nos legumes e verduras, ao não tentar fazer algo para mudar quando via que o cocô estava muito duro.

Mas já me perdoei. Me perdoei porque eu posso fazer tudo isso a partir de agora e ela não vai mais precisar sentir essa dor. É só mais um motivo para ser chata, mas mãe que é mãe é chata mesmo. Talvez essa seja uma das maneiras de mostrarmos que amamos, e que talvez eles só percebam quando tiverem neste papel.

Sim, muda tudo! E ainda assim não tem sensação mais intensa do que esta! Eu só tenho a agradecer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário